20 de mai. de 2014

Vou parar de fumar!

Eu vou parar de fumar! Porque não tem mais graça essa história de colocar fumaça dentro dos meus pulmões e eu quero muito parar... Querer é poder e eu vou conseguir!

É como disse minha companheira blogueira Mariana em um post dedicado à mim: "nesse game só fracassa de verdade quem para de tentar" (veja clicando aqui)... e é com a sua ajuda e a de minha nova amiga Débora (veja o blog dela aqui) que eu entrarei novamente na luta.

Eu havia dito em outro post que só iria tentar novamente em dezembro (veja aqui), mas eu decidi tentar antes disso. Isso porque mesmo fumando eu não me sinto feliz, continuo depressiva só que agora o motivo não é mais a abstinência da nicotina. A cada cigarro que acendo me sinto péssima, não apenas porque sei o mal que estou causando à minha saúde, mas porque sinto que o cigarro é mais forte do que eu. Preciso provar à mim mesma que sou mais forte que este vício, preciso dar um basta nesta história de dependência!

Como todas as outras vezes que tentei parar "na tora" não deram certo, desta vez farei diferente. Vou parar fazendo o desmame, começarei reduzindo a quantidade de cigarros fumados diariamente. E então, no dia 31 de maio, dia nacional de combate ao tabaco, e dia em que apresento o tal trabalho no congresso, fumarei meu último cigarro!

Então, dia 1º de junho colocarei o adesivo de nicotina fase 3, porque desta vez não quero passar pelos sintomas cruéis de abstinência que passei nas outras vezes. Admito minha impotência e utilizarei a bendita nicotina terapêutica.

Daqui até lá vou contando pra vocês como está sendo a redução dos cigarros diários. E vamos lá, rumo ao:



18 de mai. de 2014

Síndrome de abstinência da nicotina - parte 1

Este post é para pessoas que tenham curiosidade em entender o que acontece com o nosso corpo quando resolvemos parar de fumar, é para quem quer saber quais efeitos fisiológicos causados pela nicotina e as consequências de sua retirada. A síndrome de abstinência desta droga provoca muitos efeitos e, para evitar que fique um texto grande e cansativo, resolvi dividir as postagens sobre este assunto. 

A nicotina é uma substância química (mais detalhes em link) que tem sua ação fisiológica por atuar em receptores específicos localizados em diversas células do nosso corpo. Estes receptores recebem o nome de nicotínicos e estão localizados no cérebro, glândulas, músculos e nervos, sendo responsáveis por regular diversas funções no nosso organismo.

No cérebro, os receptores nicotínicos, quando estimulados pela nicotina, induzem a liberação de diferentes neurotransmissores. A figura abaixo resume quais são esses neurotransmissores e algumas das funções que eles controlam:



Portanto, ao retirar a nicotina deixamos de "alimentar" estes receptores e então surgem alguns dos sintomas da crise de abstinência:
  1. Irritabilidade e mal-humor
  2. Aumento do apetite
  3. Falta de concentração
  4. Ansiedade
  5. Sonolência 
Entretanto, algumas pessoas têm insônia quando param de fumar, isso porque em doses mais elevadas a nicotina tem um efeito depressor, ou seja, induz o sono, e é por isso que, ao retirá-la, alguns têm dificuldade para dormir. Então, este efeito da abstinência em relação ao sono irá variar dependendo do número de cigarros que a pessoa fumava, bem como de outros fatores pessoais relacionados ao estilo de vida de cada um.

Ainda no cérebro, a retirada da nicotina provoca depressão e este sintoma foi abordado em outro post, veja neste link aqui.

Algumas pessoas podem perguntar: "Por que quem não fuma consegue produzir todos esses neurotransmissores sem precisar da nicotina?"...
Isso acontece porque todos nós temos esses receptores nicotínicos e produzimos endogenamente uma substância que os ativam, a acetilcolina. No cérebro, a acetilcolina é capaz de induzir impulsos elétricos que sinalizam a liberação de alguns destes neurotransmissores citados na figura acima.

Todos nós temos a capacidade de sintetizar acetilcolina, porém, a estimulação contínua destes receptores pela nicotina provoca a síntese de novos receptores e isso faz com que a acetilcolina que nós produzimos seja incapaz de satisfazer a maior quantidade de receptores que agora precisam ser ativados para produzir o mesmo efeito.
O aumento no número desses receptores induzido pela nicotina é um dos motivos pelo qual esta droga é altamente capaz de provocar dependência (em outro post sobre síndrome de abstinência, falarei mais sobre a fissura e o mecanismo de dependência da nicotina).

Uma curiosidade é que, quando estes receptores foram descobertos pelos cientistas, foram nomeados "receptores nicotínicos" exatamente pela capacidade da nicotina de ativá-los com altíssima especificidade, maior até que a própria acetilcolina que nós produzimos endogenamente. O que demonstra mais uma vez a elevada capacidade desta droga de provocar dependência química.

São muitos os efeitos fisiológicos da nicotina, aos poucos falarei sobre cada um deles.

*Caso alguém tenha curiosidade de saber sobre algum sintoma específico, ou mesmo se deseja saber mais detalhadamente sobre os mecanismos fisiológicos de algum dos sintomas, sinta-se à vontade para pedir. Farei o possível para esclarecer dúvidas sobre este assunto!


15 de mai. de 2014

Depressão e tabaco


Este post é em homenagem à uma queridíssima blogueira, que está passando por momentos de dificuldades depois que parou de fumar. E, o pior de tudo, é que as pessoas próximas à ela não a entendem. Por isso, na tentativa de ajudá-la a convencer estas pessoas de que seu estado é real, vou falar um pouco sobre a depressão e sua relação com o tabaco, incluindo a relação entre os efeitos fisiológicos da abstinência da nicotina e a determinação do quadro depressivo.

Antes disso, vou fazer uma breve descrição da minha formação acadêmica, apenas no intuito de dar credibilidade ao que vou escrever, já que muitos julgam os ex-fumantes como loucos e dramáticos.
Sou farmacêutica graduada há quase 5 anos, concluí meu mestrado há dois anos na área de produtos naturais com ênfase em farmacologia, estou no último ano do doutorado em ciências da saúde e já dei aula de fisiologia e farmacologia. Todos estes anos de estudo e pesquisa me dão base suficiente para falar com propriedade sobre a fisiologia da nicotina e os seus efeitos no sistema nervoso central. 
Vou tentar ser didática e escrever de forma bem simples para que todos consigam compreender. No final do post, colocarei algumas referências de artigos científicos para caso alguém queira aprofundar a leitura sobre o assunto.

A capacidade que nós temos de sentir emoções é devido à produção de neurotransmissores em nosso cérebro, tais como dopamina, serotonina e noradrenalina. São estes hormônios os responsáveis pelas nossas sensações e eles estão relacionados com o controle de diversos sintomas emocionais, que podem ser observados na  figura abaixo:


A depressão é uma doença caracterizada pela redução dos níveis cerebrais destes neurotransmissores. Portanto, a ausência de noradrenalina diminuirá a energia e o interesse; a ausência de serotonina irá diminuir a capacidade de controlar o impulso; a ausência de noradrenalina e serotonina irá reduzir a capacidade do indivíduo em controlar a ansiedade e a irritabilidade; a deficiência em dopamina irá diminuir a iniciativa em realizar tarefas corriqueiras; e, por fim, a ausência dos três irá reduzir o humor, a capacidade de controlar as emoções e a função cognitiva (capacidade de memória, atenção e raciocínio).  

Um dos efeitos da nicotina é aumentar a liberação destes hormônios no sistema nervoso central. A nicotina se liga em receptores específicos no cérebro, denominados receptores nicotínicos. Estes receptores, quando ativados, provocam a liberação destes neurotransmissores, melhorando todos estes estados emocionais.

Ao parar de fumar, o indivíduo deixa de produzir noradrenalina, serotonina e dopamina na mesma quantidade de antes, perdendo a capacidade de controlar todas essas emoções, por isso que a abstinência da nicotina provoca um estado depressivo, além de irritabilidade, falta de concentração, dentre outros sintomas.

Com o tempo, a produção destas substâncias se regulariza, porém, em algumas pessoas isso não acontece (ou demora mais para acontecer) porque estão mais propensas ao estado depressivo, devido a fatores variáveis que estão sendo estudados pelos cientistas. Pode estar relacionado a:

  1. Tempo de uso da nicotina
  2. Quantidade de cigarros fumados diariamente
  3. Quando foi iniciado o tabagismo (pessoas que começaram a fumar por volta dos 15 anos estão mais propensas)
  4. Fatores genéticos

Portanto, o tabagismo hoje é considerado uma doença crônica e não uma frescura. Atualmente, é considerado um problema de saúde pública! E já existem milhares de estudos com o intuito de descobrir medicamentos que auxiliem no tratamento para pessoas deixarem de fumar e alguns deles já estão disponíveis no mercado. Dentre estes medicamentos, alguns são da classe dos antidepressivos, depois escreverei um post sobre eles. 

Alguns fumantes conseguem parar sem usar medicamentos, mas outros precisam deles. Eu mesma me recuso a utilizá-los, pois antidepressivo é uma droga que provoca dependência tal como a nicotina e que tem vários efeitos colaterais indesejáveis. Por isso, prefiro tentar parar de fumar sem procurar ajuda médica. Caso eu não consiga, admitirei minha fraqueza e procurarei auxílio medicamentoso. 

O que deve ficar claro é que cada pessoa tem suas particulares, o importante é fazer uma relação "risco x benefício" e analisar suas necessidades. Se você está percebendo que não consegue parar sem um adjuvante e sua saúde está prejudicada por causa do tabaco, o ideal é procurar um médico, de preferência especialista em tabagismo.

O que não pode é ficar se martirizando e se culpando por não conseguir. Não se compare à outras pessoas que conseguiram parar de fumar sem utilizar nada. Lembre-se sempre que cada indivíduo tem a sua história e suas particularidades. 


- Listei algumas referências para quem se interessar e quiser aprofundar a leitura sobre o assunto. Como não sei anexar os arquivos aqui no blog, vou colocar os links para vocês encontrarem na internet.
Infelizmente, alguns são artigos científicos que são pagos e só dá pra baixar gratuitamente pela universidade. Mas caso alguém se interesse, é só me pedir que envio por e-mail.
  1. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22558621
  2. http://www.scielo.br/pdf/jbpneu/v34n10/v34n10a14.pdf
  3. http://link.springer.com/article/10.1080%2F10298420290023963
  4. http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0278584614000311


13 de mai. de 2014

Último fracasso

Quem acompanha meu blog desde o início já deve ter percebido que quando eu passo alguns dias sem postar o pior aconteceu, não é mesmo? Então, dessa vez não foi diferente. Eu desisti!
Demoro de postar porque tenho vergonha de vocês, meus leitores. Tenho vergonha de ter sido fraca e tenho medo de influenciar os que estão firmes e fortes. 

Na verdade, eu desisti de parar de fumar agora, mas isso não quer dizer que não vou parar, que desisti de vez. Apenas resolvi admitir minha impotência neste momento e assumir que não estou num momento ideal para enfrentar todos esses sintomas da abstinência. 

A questão é que estou no meu último ano de doutorado e o cerco está fechando. Vou fazer uma apresentação oral num congresso daqui a 15 dias e meus "tico e teco" não estavam funcionando direito. Não foi por falta de tentativa, passei 14 dias tentando me concentrar, estudar e produzir, mas não consegui.
Estou muito atribulada com artigos para ler, experimentos para fazer, apresentações orais para preparar e, simplesmente, passei duas semanas improdutivas apenas vivendo e tentando aprender a lidar com a abstinência da nicotina. Simplesmente, cansei! Cansei de me sentir depressiva e desanimada, cansei de ficar estressada e decidi que não será agora que irei me despedir do meu "querido" cigarro.

Ah, gente! Passei a minha vida inteira fumando, logo agora que estou terminando um ciclo em minha vida, eu tenho que ficar me angustiando por causa da falta que o cigarro me faz? Sinceramente, não acho que mais alguns meses fumando irão me matar. O que não dá mais é ficar arriscando meu futuro profissional por causa dessa abstinência, pois foi quase isso que aconteceu. Não dá pra entrar em detalhes por aqui, mas estejam certos que não foi à toa que tomei esta decisão.

Entretanto, é como eu disse... não vou desistir de parar de fumar, apenas não pararei agora. Programei uma data para deixar de vez o cigarro: 16/12/2014, no dia da minha defesa do doutorado, fumarei meu último cigarro!

E, para não deixar de escrever no blog, daqui até lá abordarei alguns assuntos que considero interessantes relacionados ao cigarro. Gosto de escrever e aproveitarei os meus conhecimentos sobre fisiologia e farmacologia para falar sobre os mecanismos fisiológicos da nicotina, sobre os tratamentos disponíveis, os fatores relacionados à dependência química desta droga, os malefícios causados pelo cigarro, bem como outros assuntos relacionados à este tema.

Apesar de ser fumante há mais de 10 anos, sou amante da alimentação saudável há mais de cinco anos e gostaria de compartilhar algumas informações oriundas de pesquisas e leituras que realizo há muito tempo, sobre alimentos que auxiliam na prevenção e na redução dos prejuízos causados pelo cigarro. Sempre fui defensora de que não adianta você não fumar e se alimentar mal. Tudo que ingerimos irá interagir com nosso corpo de alguma forma e não custa nada tentar diminuir os males causados pelo tabaco.

Agradeço à todos que me acompanham...
Peço desculpas aos que decepcionei...
E continuo torcendo pelos que estão na luta. Não desistam! Cada um tem a sua história...


8 de mai. de 2014

"Só por hoje"


Nunca esse "só por hoje" foi tão eficaz desde que parei de fumar. Por muito pouco, muito mesmo, eu quase desisti de tudo e fui na padaria comprar cigarro (toda vez que paro de fumar eu passo longe da padaria que tem aqui ao lado da minha casa, pois meu cérebro já a associa ao cigarro, era lá que eu ia todas as manhãs comprar meu maço de cigarros). 

O que aconteceu foi que, definitivamente, não consigo produzir sem o cigarro, é uma coisa muito louca isso, mas meu cérebro está condicionado a associar o cigarro ao estudo. Sinto-me depressiva sem meu cinzeiro ao lado do computador e isto está cada vez pior. Às vezes, penso que terei que trocar de atividade, fazer algo que não exija muito concentração, raciocínio, articulação de ideias e criatividade. Em minha profissão tem muitas áreas que são assim, que não exigem nada disso, que o trabalho é mais técnico e mecânico. Nunca gostei desses tipo de trabalho e foi por isso que partir para a área acadêmica, mas estou me rendendo à esta possibilidade, talvez assim eu consiga ficar sem o cigarro.

Infelizmente, não posso desistir do meu doutorado, não apenas por eu ser bolsista e precisar do dinheiro pra pagar minhas contas, mas também porque sei que me arrependeria amargamente por isso. Admito que já pensei em abandoná-lo, pois é por causa disso que não consigo largar o cigarro, não só pela falta de concentração, mas devido às dificuldades em lidar com os estresses gerados por ele. Tenho consciência que o problema está em mim, tenho que me reinventar, descobrir algo que substitua o "cigarro para pensar". Entretanto, na prática isso é muito difícil.

Ontem eu perdi a paciência com isso e decidi que hoje, quando eu acordasse, iria na padaria comprar meu cigarro. Dormi pensando que talvez agora ainda não fosse o momento ideal de parar e que eu ainda não havia recebido nenhuma sentença de morte por causa do cigarro. E que, por isso, eu ainda tinha o "direito" de fumar mais alguns dias. Só que não, eu não preciso esperar esta sentença.

Hoje acordei melhor, mais animada em me manter firme. Fiquei alguns minutos me olhando no espelho... percebi como minha gengiva está mais clara, antes ela era escura por causa do cigarro, tinha muito medo de ter câncer na boca e garganta; minha pele está menos opaca e mais viva.
Além disso, lembrei que ontem, quando estava voltando do ioga, subi a ladeira da minha casa correndo sem perder o fôlego, foi aí que percebi o quanto meu corpo está evoluindo e o quanto estão valendo a pena esses dias de sofrimento.

Tudo isso me fortaleceu a não ir na tal padaria, e a me manter firme e forte sem cigarros... 
"Só por hoje"...


7 de mai. de 2014

11º dia - fase depressiva

À beira da loucura!


11º dia sem cigarro e a abstinência não melhora em nada, ao contrário, só piora. 
Acho engraçado como alguns sites sobre abstinência são mentirosos. Aposto que quem os escreve nunca fumou, apenas leu o que dizem os artigos científicos sobre dependência da nicotina (e olhe lá). 
Não me canso de ler sobre o assunto e, quanto mais eu leio, percebo que nada me ajuda, pois, me sinto péssima quando leio que com o tempo os sintomas vão diminuindo e vejo que comigo isso não acontece.
Nos primeiros dias sempre me sinto feliz por estar sem fumar, sinto que vou conseguir, apesar de todos os sintomas pesados como dores fortes de cabeça, enjoos e tonturas... mas, mesmo assim, me sinto animada. Só que com o passar dos dias essa animação vai se afastando e a depressão vai se instalando. Começo a sentir uma tristeza profunda de abandono e solidão, que saudade do meu companheiro!

Ah, e o que mais sinto falta? Do cinzeiro ao lado do computador para acompanhar meus estudos e do maço de cigarros pra me auxiliar a produzir. Sem dúvida alguma essa é a minha maior dificuldade em lidar com a abstinência! E isso só faz piorar o meu estado depressivo, começo a me torturar porque não consigo mais me concentrar e perceber o quanto sou dependente de uma droga é desesperador!
Na verdade, já não sei mais se estou depressiva porque meus neurônios não mais se conectam, ou por causa do próprio efeito da abstinência.  

Queria poder tirar férias pelo ao menos no 1º mês de abstinência, não queria ver ninguém, não queria ter que sair de casa. Mas, infelizmente, não posso. Agora mesmo, tenho que ir à uma reunião com minha orientadora, que me incumbiu de apresentar um trabalho para ela hoje. Só que não consegui terminar esta apresentação, meus receptores nicotínicos estão sedentos e não me permitem focar, estou altamente dispersa! 

O pior (se é que ainda existe algo a mais pra piorar) é ter que esperar compreensão das pessoas por estar nessa situação. Quem nunca fumou é incapaz de entender o que são esses sintomas da abstinência e muitos acham que é frescura. Até mesmo quem já fumou e conseguiu parar, muitas vezes não entendem, esquecem o que passaram. 

Mas... vamos lá... fé e força! Porque foco eu não tenho mais...


6 de mai. de 2014

Por que optei por não usar reposição de nicotina?

Resolvi escrever este post porque muita gente tem me aconselhado a usar o adesivo ou a pastilha de nicotina. Vou explicar para vocês porque eu decidi não usar mais este recurso...

Esta não é bem a minha 2ª tentativa de parar de fumar, como eu relatei aqui no blog (veja link). Na verdade, é a 2ª vez que tento parar desde que comecei a escrever aqui, ou seja, desde que decidi parar pra valer.
Ano passado eu tive infecção na garganta 4 vezes entre os meses de agosto e dezembro. Neste período, praticamente todo mês eu tinha que tomar uma caixa de antibiótico. Até que, na última infecção, tomei um antibiótico para infecções graves. O fato é que o cigarro estava destruindo todas as minhas defesas, meu sistema imune estava totalmente debilitado. 
Eu não fumava durante todas essas 4 infecções, é claro! Quem é doido de fumar com a garganta fechada cheia de pus e com febre? Mal conseguia engolir água...
Só que todas as vezes, jurava que não tocaria mais no cigarro. E, assim que eu melhorava, passava no máximo 5 dias sem fumar e voltava a colocar de novo o cigarro no "bico". 
Rapidamente eu esquecia a semana que passei na cama por causa dele, sem falar no dinheiro com médicos e remédios que eu gastava. Quem lembra disso na hora que está na fissura?

Em todas essas vezes que tentei parar de fumar eu usei o adesivo de nicotina, aquele da fase 1. E em todas, quando voltei a fumar, voltei fumando mais que antes. Eu fumava uns 15 cigarros por dia antes dessas crises e cheguei a fumar uma carteira depois dessas tentativas.

Por isso que, quando decidi parar de fumar "de verdade", sem ser pressionada por um estado de doença, decidi que não faria mais reposição de nicotina. Foi quando comecei a escrever no blog pra aliviar a tensão e, desde então, resolvi parar "na tora". 
E, sinceramente, acho que é um sofrimento dobrado parar de fumar usando a nicotina, pois você sofre na hora que pára de fumar e na hora que pára de usar a nicotina. Sem condições, não tenho estrutura pra isso!

Entretanto, na minha 1ª tentativa relatada aqui no blog, no 16º dia sem cigarro eu resolvi colocar o adesivo (tenho uma caixa guardada aqui em casa, que sobrou das vezes que tentei ano passado). Isso porque o 15º dia foi o pior de todos (se quiser saber como foi, clique aqui).
Só que não deu muito certo usar esse adesivo depois de tanto tempo sem fumar, fiquei muito mal, muito enjoada e com dor de cabeça, resolvi tirar o adesivo, tomar um medicamento para enjoo e, mesmo assim, perdi o resto do meu dia. Por essas e outras que decidi não usar mais.

É isso, a nicotina causa vários efeitos fisiológicos desagradáveis, não sentimos quando fumamos porque vamos nos acostumando aos poucos com ela, vamos adquirindo tolerância. Além disso, a nicotina inalada na fumaça vai rapidamente para o cérebro, já com o adesivo ou a pastilha isso não acontece e os seus efeitos nos outros órgãos sobressaem mais. 

Enfim, hoje estou entrando no meu 11º dia sem cigarro e a abstinência está cada vez pior... em breve conto o que estou passando nos últimos dias... 

5 de mai. de 2014

Sonhar fumando

Gente, quem já sonhou fumando? Nas duas últimas noites sonhei fumando um cigarro e soltando aquela fumacinha deliciosa... ô que saudade! 


Os dias estão passando e a abstinência está piorando, estou cada dia mais alucinada. No meu 8º dia sem cigarro achei que poderia tomar uma cervejinha de leve enquanto fazia o jantar de sábado à noite (antes quando eu ia cozinhar eu fumava um atrás do outro), tomei apenas duas long necks e foi o suficiente para dar aquela fissura pela nicotina. Foi aí que eu percebi que ainda não estou preparada para ingerir álcool neste período de abstinência. Ainda bem que eu não estava no bar, em casa fica mais fácil controlar a vontade, já que não tem ninguém fumando do meu lado e nem tenho cigarro. Foi difícil, posso dizer angustiante, mas passou! 

Está cada vez mais difícil lidar com os efeitos da abstinência. Nestes dois últimos dias (8º e 9º dias sem fumar) o que tem mais me incomodado é a sonolência, que sono é esse hein? Pior que estou evitando a cafeína, aí está mais difícil ainda controlá-lo. Sem falar na tontura, desde o primeiro dia sem cigarro que sinto, principalmente nos horários que mais gostava de fumar, pela manhã quando acordo e quando estou escrevendo. De vez em quando a fissura bate com tanta força que sinto um aperto no peito parecendo que vai me sufocar. E a concentração? É muito difícil manter o foco de leitura e o pensamento constante. Não está fácil, não mesmo. 

É por isso que estou sonhando com o cigarro nos últimos dias e, sinceramente, não acho ruim... pelo ao menos no sonho mato minha vontade de inspirar e expirar uma fumacinha, pelo ao menos no mundo dos sonhos sacio meu desejo pela nicotina. Contanto que ela não saia de lá!

3 de mai. de 2014

Nicotina: a molécula do prazer

Apesar de estar lutando para me livrar da dependência da nicotina, sou apaixonada pela química das drogas e, por isso, resolvi escrever um post exclusivamente para ela. Meu intuito é satisfazer a curiosidade de pessoas que estejam passando por este momento de abstinência e que queiram obter informações sobre esta substância tão prazerosa, que nos torna tão dependentes.

A nicotina é uma substância encontrada em folhas de plantas do gênero Nicotiana, sendo que as duas espécies mais conhecidas na América do Sul são: a Nicotiana tabacum e a Nicotiana rustica. As folhas secas destas plantas são utilizadas para produzir o tabaco. A nicotina é uma substância química do grupo dos alcaloides, que são compostos caracterizados pela presença do átomo de nitrogênio, como pode ser observado na figura abaixo:


        



Molécula de nicotina




Antigamente, o tabaco era utilizado como inseticida nas lavouras e logo foi popularizado o seu uso como fumo em cachimbos, ou mesmo mascados e até sob a forma de chás. Porém, ninguém tinha ideia dos males causados pelo seu uso.
Hoje, sabemos que o cigarro de tabaco contém milhares de substâncias nocivas além da nicotina, mas é ela a causadora do prazer e da dependência química. Mas, o que a danada da nicotina faz?

Quando tragamos o cigarro, a nicotina é rapidamente absorvida pelos alvéolos pulmonares, atingindo o cérebro em cerca de 10 segundos. Lá elas encontram seus receptores, que são moléculas proteicas com alta afinidade para a nicotina, estes receptores são conhecidos como nicotínicos. Todos nós possuímos estes receptores e é por isso que, uma vez em contato com a nicotina, todos nós podemos sentir o prazer provocado por ela, mas nem todos nós seremos dependentes, pois existem alguns componentes genéticos que influenciam neste quesito (assunto para outro post).

Mas... e como a nicotina provoca a sensação de prazer? No sistema nervoso central, a nicotina ao ativar seus receptores nicotínicos provoca a liberação de hormônios responsáveis pelo prazer, como a dopamina e a serotonina. Porém, não existem receptores nicotínicos apenas no cérebro, temos estes receptores em diversas partes do corpo, como em músculos, glândulas e nervos, por isso que a nicotina causa diversos efeitos fisiológicos, além do prazer. Abordarei sobre estes efeitos em outro momento.

Como dou aula de fisiologia e farmacologia, tive o maior cuidado para não escrever de forma técnica, espero ter sido didática :)

Plantação de Nicotiana tabacum

Folhas secas da Nicotiana tabacum usadas para fabricar o cigarro de tabaco

7º dia sem cigarro

Como nem tudo são flores, meu 7º dia sem cigarro não foi dos melhores...

Tudo começou quando fui fazer um exame de sangue pela manhã, sou igual uma criança quando preciso tirar sangue, fico muito tensa. Quando acabou a tortura da agulha, sentei numa sala pra fazer o desjejum, onde tinha uma máquina de cappuccino maravilhosa e não resisti, tomei minha primeira dose de cafeína após 6 dias sem fumar. Saí do laboratório alucinada por um cigarrinho e logo de primeira me deparo com uma mulher soltando aquela fumacinha maravilhosa, ô que saudade! Corri pra casa... decidida a continuar sem ingerir cafeína por um bom tempo.

E as provações do dia não pararam por aí... tive uma reunião com minha orientadora do doutorado e soube de novidades que agitaram meu dia. Quem acompanha meu blog sabe que minha maior dificuldade é aguentar a abstinência da falta de concentração e que foi ela que me fez fraquejar na primeira tentativa. Pois então, pensei que tão cedo precisaria da tal concentração, já que já havia terminado a escrita dos meus artigos. Mas, vem bomba por aí... terei que fazer uma apresentação oral num congresso muito em breve e tenho apenas 5 dias para preparar esta apresentação e estar "afiada" para ensaiar com minha "chefa". Agora sim posso dizer que as provações da falta da nicotina estão começando. O maior prazer que tinha com o cigarro era no momento do estudo, o cigarrinho para pensar era o melhor de todos para mim. E agora, o que será de mim? É esperar para ver...

Por fim, para finalizar este dia, estava esperando uma notícia que envolve minha vida pessoal, a qual estava muito ansiosa à espera. Não foi a resposta que eu queria, infelizmente não foi dessa vez :(
Fiquei triste por um bom tempo e a primeira coisa que me veio na cabeça foi ir para o bar tomar todas, como sempre fiz quando algo não dá certo em minha vida. Mas consegui resistir, pois sabia que a primeira coisa que faria seria fumar um maço de cigarros para acompanhar a cerveja. Ao invés de ir ao bar, fui à academia fazer meu pilates, voltei pra casa calminha calminha, como o pilates faz bem! Indico à todos que estão no mesmo barco que eu, pois, além de ser uma atividade física maravilhosa, ainda nos ensina a respirar corretamente e sentir novamente o ar que entra e sai do nosso pulmão. É maravilhoso, gente!

É isso, estou firme, forte e feliz por mais um dia sem cigarro!


2 de mai. de 2014

5º dia sem cigarro

Esses dois últimos dias foram bem mais tranquilos do que eu imaginava. Estou tão feliz que parei de fumar e a consequência disso é que as crises de abstinência estão diminuindo. Creio que a força do pensamento seja um fator importante neste momento e, por isso, lembro sempre dos motivos que me fizeram parar de fumar e os benefícios disto em minha vida. Além disso, a atividade física está sendo fundamental para diminuir as crises, o yoga e o pilates estão me ajudado bastante a diminuir a ansiedade.

Aquela dor de cabeça insuportável que senti nos 3 primeiros dias parou, sinto apenas uma dor leve de vez em quando, que pode ser também devido à TPM, estou perto de menstruar e costumo sentir dor de cabeça nas vésperas. Outra causa desta dor de cabeça pode ser abstinência da cafeína matinal diária, pois todos os dias pela manhã eu costumava tomar 2 a 3 xícaras de café forte, mas depois que parei de fumar estou evitando a cafeína, para evitar os tais momentos de fissura comuns da abstinência.

Nestes últimos dois dias tenho sentido um leve enjoo matinal, mas que logo passa. Este enjoo pode também ser atribuído à TPM, entretanto, não posso descartar a possibilidade de ser causado pela ausência da nicotina, já que é um sintoma comum. 

Fora esses dois sintomas, não tenho sentido mais nada, até a prisão de ventre melhorou :)
É claro que eu dei uma ajudinha com uma alimentação rica em fibras para melhorar o funcionamento do intestino. Não adianta parar de fumar e não mudar os hábitos alimentares, além de inserir algum tipo de atividade física no dia-a-dia. Nosso corpo está acostumado a receber uma substância química (nicotina) a todo momento, a qual tem a capacidade de alterar o funcionamento normal do nosso corpo, portanto, é normal que com a ausência dela cause alterações fisiológicas.

E, por fim, estou muito feliz porque desta vez não estou sentindo nenhuma irritabilidade, nem estou acreditando. Para mim este era o pior sintoma da abstinência. Acho que é porque desta vez estou super decidida a parar de fumar e estou muito feliz por estar conseguindo.